A geração de resíduos industrias e emissões de gases que contribuem para o efeito estufa, principalmente relacionados à química fina e farmacêutica tornou-se, nas últimas décadas, um problema importante, merecedor inclusive de debates entre Chefes de Estado. Conferências internacionais como a ECO-92, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +10) e a assinatura do Protocolo de Kyoto são exemplos dessa preocupação. A remediação (tratamento) e a reciclagem de resíduos industriais, ou até mesmo aqueles gerados em laboratórios de ensino e pesquisa tem contribuído para a redução da contaminação ambiental. Entretanto, técnicas de remediação em geral apresentam alto custo e a necessidade de pessoal treinado, tornando-se desvantajosas em relação às técnicas de redução na fonte. Embora essas questões estejam relacionadas diretamente ou indiretamente à atividade química, raramente são abordadas nos currículos dos cursos de graduação.

Várias indústrias já perceberam que quando seus químicos possuem conhecimento sobre prevenção à poluição, eles são capazes de desenvolver e implementar técnicas de redução de poluição e, conseqüentemente, de custos1. Desta forma, a inserção de tópicos de química verde no currículo dos cursos de química e engenharia química está relacionada diretamente com a formação de profissionais químicos mais adequados às exigências do setor industrial.

Entre 12 e 14 de setembro de 2001 ocorreu em Veneza (Itália) o Workshop on Green Chemistry Education promovido pela IUPAC onde, entre outras coisas foi decidido adotar o termo green chemistry para denominar a química sustentável ou química limpa ou química benigna ao ambiente. Em português o termo adotado é química verde. Anualmente o consórcio italiano Interuniversity Consortium Chemistry for the Environmente (INCA) promove a sua escola de verão em química verde, aberta a profissionais químicos e de áreas afins, especialmente de países europeus.


Recursos Didáticos.

Sociedades de química como a American Chemical Society (ACS) e a Royal Society of Chemistry (RCS), desenvolvem e distribuem materiais sobre Química Verde, para que possam ser utilizados nos currículos dos cursos de química. Além disso, uma apreciável quantidade de artigos destinados a introduzir tópicos de Química Verde em técnicas de laboratório são publicados anualmente em periódicos da área.2

O material disponível sobre química verde em língua portuguesa ainda é bastante escasso. Pode-se dizer que os primeiros artigos descrevendo tópicos específicos de química verde no Brasil foram publicados na Química Nova em 2000, sem, entretanto, relacioná-los com a idéia de química verde e seus 12 princípios.3 Alguns anos depois foi publicado um artigo na revista Ciência Hoje4, da SBPC, abordando o assunto, além de um artigo de divulgação publicado na revista Química Nova, da SBQ.5 Embora ainda tímido, houve um crescimento significativo no número de textos sobre química verde em diferentes periódicos e magazines do Brasil e de Portugal, o que contribuiu para ampliar a gama de material disponível em português.

O Prof. Michael C. Cann, da Universidade de Scranton (EUA) é o responsável pela elaboração de uma série de módulos para a inserção de tópicos da Química Verde em várias áreas da química, desde a química industrial até a bioquímica, que podem ser discutidos na sala de aula. Atualmente há uma versão em português dos módulos de M. Cann traduzidos por docentes e alunos da Universidade Federal de Pelotas. Estes módulos podem ser encontrados no site: http://academic.scranton.edu/faculty/CANNM1/dreyfusmodulesport.html.


Referências:
  1. Hjeresen, D.L.; Schutt, D.L.; Boese, J.M. J. Chem. Educ. 2000, 77, 1543.

  2. Ver, por exemplo: Reed, S.M.; Hutchison, J.E. J. Chem. Educ. 2000, 77, 1627; Pohl, N.; Clague, A.; Schwarz, K. J. Chem. Educ. 2002, 79, 727; Harper, B.A.; Rainwater, J.C.; Birdwhistell, K.; Knight, D.A. J. Chem. Educ. 2002, 79, 729.

  3. Ver, por exemplo: Sanseverino, A.M. Quím. Nova 2000, 23, 102; Dupont, J. Quim. Nova 2000, 23, 825; Sanseverino, A.M. Quím. Nova 2002, 25, 660.

  4. Sanseverino, A.M. Ciência Hoje 2002, 31, 20.

  5. Lenardão, E.J.; Freitag, R.A.; Dabdoub, M.J.; Batista, A.C.F; Silveira, C.C. Quim. Nova, 2003, 26, 123.