A implementação de tecnologias limpas em atividades industriais em substituição a tecnologias que primeiro sujam, para que depois se limpe, é sem dúvida um grande desafio para a indústria química mundial. Há dezenas (talvez centenas) de artigos que abordam o problema e sugerem soluções para tornar mais verde técnicas clássicas de produção. A obtenção de ácido levulínico a partir do efluente da indústria de papel, a síntese verde do ibuprofen, o desenvolvimento de máquinas de lavar roupa à base de CO2 super-crítico ou ainda a síntese de inseticidas e praguicidas biodegradáveis e mais seletivos são exemplos de avanços do setor industrial em direção à uma química sustentável. Obviamente a substituição das plantas industriais existentes por novas instalações requer um investimento muito além das possibilidades das empresas, mesmo as grandes corporações multinacionais. Porém, vários químicos trabalham no sentido de desenvolver adaptações em técnicas e produtos que possam levar a uma redução na utilização de matéria-prima não-renovável e/ou a produção de resíduos tóxicos.

Energia Renovável

Atualmente, cerca de 5% de toda a energia produzida no planeta é de fonte renovável e estima-se que em 2060, quando a população do planeta deverá ser de 12 bilhões de pessoas, 70% de toda a energia produzida será renovável. Oito países possuem 81% de toda a reserva mundial de petróleo; seis países detêm 70% de todas as reservas de gás natural e oito países possuem 89% da reserva total de carvão mineral. Por outro lado, a maior parte dos países da Ásia, África e América Latina importam metade da energia para uso comercial. Estes países, em geral, vendem produtos agrícolas a um preço baixo e compram energia a preços cada vez mais elevado, gerando resultados bastante desfavoráveis em suas balanças comerciais.

As previsões mais otimistas estimam que, em 50 anos haverá dificuldade para se manter funcionando motores à base de derivados de petróleo. Além disso, é bem provável que, à medida que nos aproximemos da escassez dos combustíveis fósseis, deverá haver um aumento gradativo no preço destes derivados. Obviamente, alternativas de biocombustíveis, que hoje ainda são consideradas de preço elevado, atingirão rapidamente valores competitivos. Isso já é realidade no Brasil com o álcool etílico. O Brasil domina a tecnologia mundial de bioprodução de etanol a partir da cana-de-açúcar e possui a maior frota de veículos movida por esse biocombustível (cerca de 3 milhões de automóveis em 1999), de fonte renovável (pode-se plantar cana-de-açúcar todos os anos) e que não contribui para aumento do CO2 liberado, além de não produzir os gases tóxicos típicos dos derivados de petróleo. É verdade que falta uma política mais efetiva do governo para o setor de biocombustíveis, mas ainda assim há avanços importantes já verificados por pesquisadores da Unicamp (biocombustível a partir do bagaço de cana), UFPR (biodíesel adicionado ao óleo díesel para movimentar ônibus urbano em Curitiba), UFRJ (biodíesel a partir de óleo usado em lanchonete) e dezenas de outras unidades de pesquisa no Brasil, mostrando a viabilidade de uso da biomassa como fonte alternativa viável de energia.


Bibliografia Sugerida

Substituição de técnicas poluentes por técnicas verdes:
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